Como foi o início da empresa e quando você começou a participar do processo de gestão da Manoel Marchetti?
Manoel Marchetti, meu pai, foi o fundador da empresa, que começou em Ibirama, Santa Catarina. Ele iniciou em 1956, com serraria e venda de madeira para os estados do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Naquela época vendia-se madeira serrada de araucária para estes estados. Depois, com a escassez do pinheiro, começou-se a trabalhar com madeira de lei. Já naquela época a empresa começou a beneficiar a madeira serrada, para fazer portas e esquadrias.
Na década de 1970 meu pai era prefeito de Ibirama e teve problemas de saúde. Eu estudava em Curitiba e era jogador de futebol profissional. Acabei voltando para Ibirama para assumir algumas funções que eram do meu pai. Já estava formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Paraná e estava começando minha vida empresarial, com uma pequena transportadora. Aos poucos fui assumindo o lugar dele e começamos a ampliar a empresa.
Quando cheguei eram em torno de 20 ou 30 empregados e, evidentemente, com aquela vontade de jovem, logo passamos para 50, 100, 200 funcionários e a empresa teve uma expansão muito boa. Pegamos a época do programa habitacional do governo federal conhecido como BNH, que gerou uma demanda gigantesca por insumos para a construção civil. Era até difícil dar conta de fornecer nossas portas e esquadrias, que eram de madeira maciça. Nessa época chegamos a ter quase mil funcionários.
Como foi o processo de mudança de matéria-prima, para madeira de florestas plantadas?
Lá pelos anos 1990 começamos a fabricar portas de madeira compensada. Com a mudança na legislação, em meados dos anos 1990, que restringiu o corte de árvores nativas, tivemos que mudar abruptamente nossa matéria-prima. Foi um período muito difícil para nós, pois tivemos que abandonar tudo que produzíamos com madeira de lei e começar a trabalhar com madeira das regiões centro-oeste e norte. Tivemos que transferir parte das nossas instalações para o Mato Grosso, onde montamos uma serraria e tornos. Essa madeira vinha de caminhão para Santa Catarina, para fazermos o beneficiamento e a produção de portas e outros produtos. Foi nessa época também que começamos a trabalhar com os modulados.
Quais os produtos que a Manoel Marchetti produz atualmente e para quais os mercados a empresa vende?
Quando foi identificado a necessidade de florestas próprias?
Meu pai começou a plantar florestas em 1968. Quando cheguei na empresa, na década de 1970, eu estimulei o plantio. Não havia nenhum tipo de incentivo. Fizemos tudo com recursos próprios. A empresa era pequena e as coisas eram difíceis, mas toquei assim mesmo. Depois fui para os Estados Unidos e Canadá para entender com era o uso do pinus. Quando voltei, vim decidido a tocar o plantio, pois entendi que era a melhor solução. Atualmente usamos 100% de madeira de pinus ou de eucalipto.
Não temos mais nossa unidade em Mato Grosso, onde tínhamos mais de um milhão de árvores de teca. Hoje estamos só na região sul. Nossas florestas estão em Santa Catarina e só usamos madeira da Amazônia quando precisamos de madeira faqueada. Atualmente temos aproximadamente 5 mil hectares de área com florestas plantadas, próprias e de terceiros.
Qual volume de madeira que a empresa movimenta?
Nós usamos madeira serrada e madeira em bloco, que serramos em nossas unidades. São em torno de 10 mil toneladas por mês de madeira em tora que saem das nossas florestas.
Você já foi gestor público. Como avalia a gestão deste governo em relação ao setor florestal?
Fui prefeito de Ibirama por dois mandados e sou suplente de senador. Vejo que este governo está dando mais atenção para os órgãos ambientais federais. As autoridades federais estão com uma nova postura e felizmente não existe mais nenhum tipo de perseguição, como já aconteceu no passado.
Precisamos de uma política de desenvolvimento sustentável. Nosso país tem muita área nativa improdutiva, que geram despesas para os proprietários destas terras. Se não houver uma vigilância nessas áreas elas ficam vulneráveis a criminosos e ladrões, que vão extrair madeira nativa, caçar e cometer outros crimes. Na minha visão, o proprietário destas áreas deveria poder fazer usos dos recursos, através de manejo sustentável. Tudo feito com base em estudos, para extrair a madeira que pode ser extraída e ao mesmo tempo dar condições para que esta floresta se desenvolva, que novas árvores surjam. Isto sim é sustentabilidade.
Como a Manoel Marchetti se atualiza em relação à tecnologia, para os processos produtivos que a empresa utiliza?
Buscamos tecnologia no mercado. E Santa Catarina é um estado que nos atende muito bem nesta questão. Estufas, caldeiras, tornos laminadores, plainas, o Brasil está bem servido nessa parte. As melhores máquinas, feitas na Europa e Estados Unidos, já são produzidas no Brasil com a mesma qualidade, ou até melhores. Algumas máquinas e grandes equipamentos nós importamos e algumas compramos no mercado nacional, de empresas que têm qualidade.
Qual a importância de feiras e eventos, específicos para o setor florestal e da indústria da madeira?
Nosso pessoal, que é da área, está sempre na estrada atrás do que existe de mais moderno. As feiras e eventos do setor são muito importantes para essa atualização. Precisávamos ter até mais do que tem.
Como você enxerga o Brasil em relação aos outros países produtores de florestas plantadas?
O Brasil é grande e tem muita terra boa. Acho que plantamos muito pouco e deveríamos plantar mais. Mas não estamos muito longe do que plantam Estados Unidos e Canadá, por exemplo. Mas poderíamos fazer mais e sermos um grande fornecedor para o mercado mundial.
A Manoel Marchetti tem intenção em expandir e aumentar suas áreas plantadas?
Temos intenção em aumentarmos nossas áreas com florestas no Planalto Sul de Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. A Manoel Marchetti está constantemente em expansão. Principalmente nas piores épocas. Crescemos na crise para que nas épocas boas possamos atender a demanda, fabricar bastante e comercializar ainda mais.
Muito boa a entrevista do Sr. Marchetti.