Como foi sua carreira, sua trajetória até chegar ao setor florestal?
Ao longo da minha carreira tive vivência tanto em cargos públicos quanto no setor privado. Exerci mandatos de deputado estadual, deputado federal, senador, prefeito de Vitória, além de governar o Espírito Santo em três oportunidades (2003-2010 e 2015-2018). Em 1997 fui diretor de Desenvolvimento Regional e Social do BNDES, que me trouxe uma experiência do mundo corporativo. Entre 2011 e 2014 também integrei os conselhos da EDP Brasil e da Veracel, esta última ampliando ainda mais o contato com o setor de árvores cultivadas, o qual eu acompanhei e me relacionei no meu Estado, Espírito Santo, relevante produtor da área. Ao final de 2018, já no fim do meu terceiro mandato como governador, fui convidado para presidir a Ibá e aceitei o desafio. Este é um setor com forças econômica, social e ambiental, uma referência mundial e tem tudo para ajudar o Brasil e ser protagonista em diversas discussões, como mudanças climáticas.
Como está encarando a experiência de ser presidente executivo da entidade que representa o setor produtivo de florestas no Brasil?
Desde que assumi a Ibá, em março de 2019, tenho viajado por todo o Brasil visitando fábricas, florestas, centros de P&D, participando de fóruns e debates. Foram mais de 32 viagens até agora. Este é um setor com profissionais muito capacitados e inquietos, que estão a todo o tempo buscando inovar, elevar produtividade, fazer mais com menos, cuidar do meio ambiente... enfim, este setor é movido por pessoas e pessoas muito capazes. Também estou tendo a oportunidade de visitar dezenas de cidades no interior do Brasil, como Três Marias (MG), Guarapuava (PR), Três Lagoas (MS), Guaíba (RS), Limeira (SP), Três Barras (SC), entre outras.
Tem sido uma jornada muito positiva, pois estou trabalhando com um setor que contribui com o crescimento sustentável do País, o qual vejo os benefícios nas regiões onde atua, geralmente, distantes dos grandes centros, levando emprego e renda a locais antes economicamente deprimidas e ocupando áreas previamente degradadas por outras culturas.
Quais as principais funções da Ibá atualmente?
A Ibá, como a entidade que representa 49 empresas e 10 associações estaduais do setor de árvores cultivadas, tem como objetivo estabelecer diálogo do setor com todos, desde os consumidores até o poder público, passando por comunidades do entorno, ONGs, academia, imprensa, etc. O meu papel é estabelecer pontes de diálogo perene.
Além disso, embora este seja um setor pujante economicamente, social e ambientalmente, ainda é pouco conhecido pelos brasileiros. Por isso, uma das minhas missões na Ibá é aproximar o setor da sociedade.
O relacionamento internacional também está entre as prioridades, tendo fortalecido o time de Relações Internacionais com a chegada do Embaixador José Carlos da Fonseca Júnior. Internacionalmente, além dos aspectos comerciais, a Ibá tem um papel importante com o relacionamento com os sistemas de certificação internacionais, como o Forest Stewardship Council (FSC), o ISO e o Cerflor, ligado ao Programme for the Endorsement of Forest Certification Systems (PEFC). Isso porque temos boa parte de nossas florestas certificadas pelo FSC, um sistema internacional, mundialmente reconhecido, que atesta um manejo adequado das florestas, dando segurança de que os produtos têm uma origem correta e, consequentemente, impactando positivamente a comercialização de produtos de origem florestal.
Também estamos trabalhando em Brasília, onde reabrimos a nossa representação em setembro de 2019. Estamos em constante diálogo com autoridades federais.
Por meio dos diversos Comitês e Grupos de Trabalho da entidade, a Ibá busca incrementar a competitividade do setor e alinhar as empresas associadas no mais elevado patamar de ciência, tecnologia e responsabilidade socioambiental ao longo de toda a cadeia produtiva das árvores, na busca por soluções inovadoras para o mercado brasileiro e global.
O que o setor de florestas plantadas significa para nosso país e para o mundo?
Economicamente, este é um setor fundamental para o Brasil. Em 2019 gerou divisas de US$ 9,7 bilhões, respondendo com 4,3% das exportações do País e 10% das exportações do agronegócio. Em tributos são arrecadados anualmente mais de R$ 12 bilhões. A receita do setor, de R$86,6 bilhões, significa 1,3% do PIB nacional. A indústria caminha para elevar estes números, uma vez que já tem anunciados ou em andamento investimentos de R$32,9 bilhões até 2023. Um aporte significativo, uma vez que ainda estamos em um período de baixo dinamismo econômico e muitos setores da economia brasileira ainda estão passando por uma retração.
A força econômica se reflete nas milhares de oportunidades por todo o Brasil. São 3,8 milhões de empregos diretos, indiretos e efeito renda. Além disso, o trabalho socioambiental é muito forte. Em 2018 foram R$482 milhões investidos que beneficiaram 1,5 milhão de brasileiros em projetos de fomento, educação, cultura, entre outros.
Ambientalmente, o manejo adequado, como é realizado pelas empresas do setor, auxilia na regulação de fluxo hídrico, qualidade do solo e preservação da biodiversidade, por exemplo. O setor, inclusive é o que mais conserva mata nativa no Brasil, pois para cada 1 hectare plantado outro 0,7 é conservado. O setor vai além do que é estabelecido legalmente, pois entendeu que natureza e produtividade andam lado a lado.
Os benefícios ambientais não estão restritos ao Brasil. O setor brasileiro de árvores cultivadas é uma referência mundial. Temos 7,8 milhões de hectares cultivados em todo o Brasil, que estocam 1,7 bilhão de CO2eq. Com isto, o setor, inclusive, auxilia o País a cumprir acordos internacionais estabelecidos, como o Acordo de Paris.
Como você percebe a tecnologia disponível para o setor florestal em relação aos outros países que têm as florestas como um dos pilares econômicos?
Referência pela tecnologia florestal, o setor brasileiro tem a maior produtividade do mundo, levando em conta o volume de madeira produzido por área ao ano, além de uma das rotações mais curtas, considerando o tempo decorrido entre o plantio e a colheita das árvores. Em 2018, o Brasil apresentou uma produtividade média de 36,0 m³/ha.ano para os plantios de eucalipto, enquanto a dos plantios de pinus foi de 30,1 m³/ha.ano.
Mesmo com impacto das alterações climáticas no crescimento das plantações, principalmente o desequilíbrio do regime de chuvas em várias partes do território nacional, a produtividade de eucalipto apresentou um aumento médio de 0,5% ao ano. Este crescimento está relacionado com os investimentos em pesquisa e melhoramento genético e a busca pelos melhores métodos silviculturais que as empresas do setor fazem todos os anos. Impulsionada pelas características de clima e solo, a indústria brasileira aprimora, investindo continuamente no melhoramento e aperfeiçoamento do manejo florestal e da eficiência de suas operações.
Para se ter uma ideia em outras regiões do mundo a produtividade é muito menor. Na Escandinávia, é de 10 m³ de madeira por hectare/ano; e nos EUA são 12 m³.
Qual a avaliação que a Ibá faz do Plano Nacional de Desenvolvimento de Florestas Plantadas - PNDF?
O PNDF é uma grande conquista do setor, pois é o resultado do Decreto 4 nº 8375 de 2014, que estabelece os princípios e os objetivos da política agrícola para florestas plantadas.
Criado pelo MAPA para incentivar essa cadeia produtiva, contou com participação ativa da equipe da Ibá na sua preparação, assim como da academia, setor privado, governo e sociedade civil. Agora, a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Florestas Plantadas do MAPA será responsável pelas funções de monitoramento, avaliação e atualização do plano. Seguimos muito próximos, pois acreditamos que este é o setor nato da bioeconomia, fundamental para atender as demandas da população ao mesmo tempo que ajuda na mitigação de efeitos das mudanças climáticas.
Além do desenvolvimento do setor, espera-se que o plano contribua com melhores oportunidades para o homem no campo, com segurança jurídica, negócios mais restáveis. Se os pleitos, ou boa parte deles, forem endereçados, espera-se aumentar em 2 milhões de hectares a área de cultivos comerciais, ou seja, aumento de 20% sobre a área atual.
Comments